sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Virman escreve: ANTONIO FRANCISCO DE JESUS, SARACURA, o Acadêmico


Fiquei em dúvida se incluía esse texto aqui em "Meninos que não queriam ser Padres" ou em outro dos meus blogs. Botei aqui mesmo, porque (mesmo de subleve) fala um pouco do efeito livro. Obrigado, amigo Virman! Um dos grandes amigos que os livros que escrevo me deram (01/11/2013, já?)    


ANTONIO FRANCISCO DE JESUS, SARACURA, o Acadêmico

Em 30 de novembro de 1858, passados exatos 154 anos, 10 meses e 18 dias, um tobiense ilustre despediu-se dos jovens desta terra, dos quais era professor e amigo. Escreveu ele:
“Finalmente agora só me resta dizer-vos adeus. E se deixando este Magistério que, para mim, hoje termina, deixo aquilo que talvez jamais me possa ser restituído, é porque creio que algum dia possa em alguma coisa dirigir os jovens que se dedicam às letras. Por que motivo o faço? É porque decerto, muita vez se me torna pesado o encargo que me impõe o inocente menino; pois eu quisera, discípulos, saber quanto possível, para levar a luz ao vosso espírito que aqui jaz imerso em rudes trevas.
Entretanto, ensinando-vos ao mesmo tempo que aprendo, vejo, ainda, que bem fracas são minhas forças para consegui-lo, porque me faltam os princípios da grande ciência, que sou levado a cultivar.
Mas eu vou deixar-vos levando o coração umedecido nos prantos da saudade.
Adeus, pois, bons discípulos.
Muito em breve vos provará o tempo quanto vos estimo, quanto vos tenho estimado e quanto vos estimarei sempre; por isso, considerai-me no número de vossos amigos.”
Itabaiana, 30 de novembro de 1858
......................................................................................................................
Era Tobias Barreto de Menezes e contava ele 19 anos, 5 meses e 23 dias. Um jovem sonhador, como todos os jovens soem sê-lo. Seu desejo de sempre saber para transmitir, levou-o a declarar: ”Meu fito é saber, nada mais”. E foi sempre aprendendo e ensinando, que se tornou criador de um estilo poético – o condoreirismo - e fundador de uma escola de pensamento livre: a Escola do Recife.
 Mudaram-se os tempos e os costumes. A universalização do conhecimento, através da Internet, abriu novos horizontes, não havendo mais necessidade de sair-se de casa nem abandonar os amigos para aprender, como nos tempos de outrora. As Letras, antes buscadas, são-nos hoje oferecidas quase gratuitamente. Só não aprendem os preguiçosos.
A interiorização das Academias, que já é uma realidade, vem proporcionar um encontro, a nível domiciliar, dos estudiosos da obra dos que nos precederam, mostrando que a cultura não é privilégio das grandes cidades, mas das grandes cabeças.
...................................................................................................................................................
Ignoro se minha simpatia por esta cidade se deve ao fato de Tobias tê-la amado, se é por sua singela beleza, mais parecendo uma mocinha pronta para a festa ou se por ser uma cidade de vencedores, - bem como se minha empatia com Sacacura é em função de termos o mesmo nome, sermos ambos ex-seminaristas e termos nascido pobres. A verdade é que me sinto bem aqui e com ele.
Por isto, tomo a liberdade de, sem autorização, mas, entendendo que meus conterrâneos sentir-se-ão orgulhos por estarem representados aqui e agora, - em nome dos acadêmicos da Academia Tobiense de Letras e Artes, da qual sou Presidente e de todos os tobienses, parabenizo a Academia Itabaianense de Letras por formalizar o título de acadêmico ao seu ilustre filho. Ao amigo e novel acadêmico Antonio Francisco de Jesus, Saracura, meu especial abraço.
Os grandes momentos trazem-nos sempre grandes lembranças. Tenho certeza de que, enquanto as palavras elogiosas chegavam aos seus ouvidos, por vezes e involuntariamente, os olhos da alma de Tonho de Zé de Pepedo passearam entre a Terra Vermelha, que “fica depois do Cajueiro e do Canário, pelo lado direito do Pé do Veado”, e as Flexas, onde reviram a lagoa Perpétua; riram da “bola esquipada” do então tabaréu, desceram da marinete e, de boca aberta, admiraram os imponentes casarões da Rua da Frente e a imensidão de água do Rio Sergipe, indo, finalmente, encontrar-se com o reitor – o padre Leão, aquele que tinha fama de ler os pensamentos, para declarar-lhe que queria ser padre para salvar as almas dos pecadores e que “trouche” a escova de dentes.
Recordaram o adolescente observador, que achava o professor Alfeu muito engraçado, especialmente quando queria parecer sério. O futuro escritor, que tivera seus diários sequestrados e o titubeante seminarista que ficara indeciso, precisando pular da torre, mas receoso por não ter recursos para se manter, até que enfim tomara uma decisão na vida: sair do seminário. O ex-seminarista que voltara com sua mala de couro, já sem as ilusões do vicariato de Itabaiana; o rapaz desorientado e cheio de medos, o inquilino da vila de seu Amado, na rua d. Quirino, 263 - a Vila dos Farinheiros, para, depois, chegarem ao Economista, Corretor de Imóveis, Analista de Sistemas e tantas outras funções exercidas, atingindo, finalmente a imortalidade como acadêmico.
Você é um grande vencedor, Saracura! Parabéns, Toinho de d. Florita!

Vírman
Tobias Barreto/SE

    16/10/2013