Fiquei em dúvida se incluía esse texto aqui em "Meninos que não queriam ser Padres" ou em outro dos meus blogs. Botei aqui mesmo, porque (mesmo de subleve) fala um pouco do efeito livro. Obrigado, amigo Virman! Um dos grandes amigos que os livros que escrevo me deram (01/11/2013, já?)
ANTONIO FRANCISCO DE JESUS, SARACURA, o Acadêmico
Em 30 de novembro de
1858, passados exatos 154 anos, 10 meses e 18 dias, um tobiense ilustre despediu-se
dos jovens desta terra, dos quais era professor e amigo.
Escreveu ele:
“Finalmente agora só me
resta dizer-vos adeus. E se deixando este Magistério que, para mim, hoje
termina, deixo aquilo que talvez jamais me possa ser restituído, é porque creio
que algum dia possa em alguma coisa dirigir os jovens que se dedicam às letras. Por que motivo o faço? É porque
decerto, muita vez se me torna pesado o encargo que me impõe o inocente menino;
pois eu quisera, discípulos, saber quanto possível, para levar a luz ao vosso espírito que aqui jaz imerso em rudes trevas.
Entretanto, ensinando-vos ao mesmo tempo que aprendo,
vejo, ainda, que bem fracas são minhas
forças para consegui-lo, porque me faltam os princípios da grande ciência,
que sou levado a cultivar.
Mas eu vou deixar-vos
levando o coração umedecido nos prantos da saudade.
Adeus, pois, bons
discípulos.
Muito em breve vos
provará o tempo quanto vos estimo, quanto vos tenho estimado e quanto vos
estimarei sempre; por isso, considerai-me no número de vossos amigos.”
Itabaiana,
30 de novembro de 1858
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Era Tobias Barreto de
Menezes e contava ele 19 anos, 5 meses e 23 dias. Um jovem sonhador, como todos
os jovens soem sê-lo. Seu desejo de sempre saber para transmitir, levou-o a
declarar: ”Meu fito é saber, nada mais”. E foi sempre aprendendo e ensinando,
que se tornou criador de um estilo poético – o condoreirismo - e fundador de
uma escola de pensamento livre: a Escola do Recife.
Mudaram-se os tempos e os costumes. A universalização
do conhecimento, através da Internet, abriu novos horizontes, não havendo mais
necessidade de sair-se de casa nem abandonar os amigos para aprender, como nos
tempos de outrora. As Letras, antes buscadas, são-nos hoje oferecidas quase
gratuitamente. Só não aprendem os preguiçosos.
A interiorização das
Academias, que já é uma realidade, vem proporcionar um encontro, a nível
domiciliar, dos estudiosos da obra dos que nos precederam, mostrando que a
cultura não é privilégio das grandes cidades, mas das grandes cabeças.
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Ignoro se minha
simpatia por esta cidade se deve ao fato de Tobias tê-la amado, se é por sua
singela beleza, mais parecendo uma mocinha pronta para a festa ou se por ser
uma cidade de vencedores, - bem como se minha empatia com Sacacura é em função
de termos o mesmo nome, sermos ambos ex-seminaristas e termos nascido pobres. A
verdade é que me sinto bem aqui e com ele.
Por isto, tomo a
liberdade de, sem autorização, mas, entendendo que meus conterrâneos sentir-se-ão
orgulhos por estarem representados aqui e agora, - em nome dos acadêmicos da
Academia Tobiense de Letras e Artes, da qual sou Presidente e de todos os
tobienses, parabenizo a Academia Itabaianense de Letras por formalizar o título
de acadêmico ao seu ilustre filho. Ao amigo e novel acadêmico Antonio Francisco
de Jesus, Saracura, meu especial
abraço.
Os grandes momentos
trazem-nos sempre grandes lembranças. Tenho certeza de que, enquanto as
palavras elogiosas chegavam aos seus ouvidos, por vezes e involuntariamente, os
olhos da alma de Tonho de Zé de Pepedo passearam entre a Terra Vermelha, que “fica
depois do Cajueiro e do Canário, pelo lado direito do Pé do Veado”, e as
Flexas, onde reviram a lagoa Perpétua; riram da “bola esquipada” do então
tabaréu, desceram da marinete e, de boca aberta, admiraram os imponentes
casarões da Rua da Frente e a imensidão de água do Rio Sergipe, indo,
finalmente, encontrar-se com o reitor – o padre Leão, aquele que tinha fama de
ler os pensamentos, para declarar-lhe que queria ser padre para salvar as almas
dos pecadores e que “trouche” a
escova de dentes.
Recordaram o
adolescente observador, que achava o professor Alfeu muito engraçado,
especialmente quando queria parecer sério. O futuro escritor, que tivera seus
diários sequestrados e o titubeante seminarista que ficara indeciso, precisando
pular da torre, mas receoso por não ter recursos para se manter, até que enfim
tomara uma decisão na vida: sair do seminário. O ex-seminarista que voltara com
sua mala de couro, já sem as ilusões do vicariato de Itabaiana; o rapaz
desorientado e cheio de medos, o inquilino da vila de seu Amado, na rua d.
Quirino, 263 - a Vila dos Farinheiros, para, depois, chegarem ao Economista,
Corretor de Imóveis, Analista de Sistemas e tantas outras funções exercidas,
atingindo, finalmente a imortalidade como acadêmico.
Você é um grande vencedor,
Saracura! Parabéns, Toinho de d. Florita!
Vírman
Tobias Barreto/SE
16/10/2013